quinta-feira, 16 de julho de 2015

Insônia

Quase três da manhã, o barulho repetido das teclas do computador ecoando pelo apartamento. O gosto amargo do cigarro que teima em não apagar. Eu aqui, desorientada, vendo seu rosto evaporar com a fumaça (e eu trago fundo, que é p/ te sentir cada vez mais meu, antes acabando com o meu pulmão do que com o meu coração). Sofro de ansiedade, é bom dizer. Ver os cigarros irem sumindo assim, um a um, me desespera e lembrar do nosso encontro amanhã cedo: também. Não me sinto preparada, nem p/ o fim do maço nem p/ nosso. E é como dizem: a ansiedade só vem à tona porque já existe aqui dentro. Quero escovar os dentes e tirar esse gosto de vc da minha boca, aí percebo que precisaria tomar um banho para ver se tiro o cheiro do seu cheiro que acidentalmente veio de encontro ao meu. Daria muito trabalho esfregar o corpo quase até arrancar a pele, o cheiro nem está me incomodando tanto assim e é melhor deixar como está, vc se escondendo por entre os caninos, eu enxaguando a boca com listerine, fazendo gargarejos até não encontrar mais nenhum indício de que vc esteve ali. Quando termino, percebo que está por toda parte. Como sempre esteve e como sempre vai estar. Aceito. Preciso pensar no que fazer. Calma: espera. Um passo em falso e a gente já era. Aceito: é melhor eu ir dormir, os cigarros não vão durar uma madrugada inteira. Nem a gente.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Então...

Então a vida é mais ou menos isso: Você se apaixona por alguém. Não dá certo. Ou pq esse alguém não te quer, ou o mundo e as pessoas vão contra. Ou pelo estilo de vida dos dois, ou a diferença de idade ou pelo simples fato de você não ser para o outro o que ele é para você. E você é obrigado a ficar na espera daquele desencanto, esperando seu coração ser preenchido por outro alguém. Enquanto isso o tempo passa... Seus amigos mandam você sair e conhecer gente nova. E é tanta gente dizendo a mesma coisa que parece ser uma obrigação. O tempo continua passando e você vai acumulando fracassos amorosos. Seu coração continua vazio e despedaçado. A vida passa, sempre, o sentimento às vezes não. E tudo segue naquele ritmo. Você conhece qualquer pessoa, resolve se envolver com ela por pura conveniência, pelo medo de ficar só ou por ela passar p/ você alguma segurança, ou fazer você se sentir superficialmente amado. Vocês acabam selando um relacionamento. Quando vai ver está se casando do jeito que sua mãe sonhou te ver casando, mas não com a pessoa que você ama. Quando menos espera gera um fruto deste relacionamento vazio. Este fruto te vincula ainda mais à alguém que só te faz bem, mas não faz você se sentir do jeito que a outra pessoa fazia. Você envelhece, infeliz, ao lado de alguém que não ama... mas não importa, você está seguindo a vida como ela deve ser seguida. Você está dando andamento à ela. Você envelheceu... talvez com netos, uma grande e linda família. Uma família que você decidiu construir com alguém que talvez tenha te trazido paz, dado carinho, amor... Você racionalmente reconhece isso, mas seu coração continua vazio. Você construiu uma linda família, mas não com quem você amava. Não com a pessoa que te trazia paz, mas que trazia aquela perturbação deliciosa que ninguém jamais traria. Não com a pessoa que te dava prazer, que te fazia feliz ao mesmo tempo que te enviava ao inferno. Você morre, mas deixa para próxima geração filhos, laços... talvez de homens e mulheres que irão se entregar à alguém, alguém que não ame... mas que darão continuidade à sua família linda, de laços mal feitos e relacionamentos vazios.