quinta-feira, 16 de julho de 2015

Insônia

Quase três da manhã, o barulho repetido das teclas do computador ecoando pelo apartamento. O gosto amargo do cigarro que teima em não apagar. Eu aqui, desorientada, vendo seu rosto evaporar com a fumaça (e eu trago fundo, que é p/ te sentir cada vez mais meu, antes acabando com o meu pulmão do que com o meu coração). Sofro de ansiedade, é bom dizer. Ver os cigarros irem sumindo assim, um a um, me desespera e lembrar do nosso encontro amanhã cedo: também. Não me sinto preparada, nem p/ o fim do maço nem p/ nosso. E é como dizem: a ansiedade só vem à tona porque já existe aqui dentro. Quero escovar os dentes e tirar esse gosto de vc da minha boca, aí percebo que precisaria tomar um banho para ver se tiro o cheiro do seu cheiro que acidentalmente veio de encontro ao meu. Daria muito trabalho esfregar o corpo quase até arrancar a pele, o cheiro nem está me incomodando tanto assim e é melhor deixar como está, vc se escondendo por entre os caninos, eu enxaguando a boca com listerine, fazendo gargarejos até não encontrar mais nenhum indício de que vc esteve ali. Quando termino, percebo que está por toda parte. Como sempre esteve e como sempre vai estar. Aceito. Preciso pensar no que fazer. Calma: espera. Um passo em falso e a gente já era. Aceito: é melhor eu ir dormir, os cigarros não vão durar uma madrugada inteira. Nem a gente.